{"id":131,"date":"2023-10-30T07:56:00","date_gmt":"2023-10-30T07:56:00","guid":{"rendered":"https:\/\/www.mozavibe.co.mz\/?p=131"},"modified":"2023-11-14T10:18:03","modified_gmt":"2023-11-14T10:18:03","slug":"suzy-bila-vivo-em-territorios-multifacetados","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/mozavibe.co.mz\/pt_PT\/2023\/diaspora\/suzy-bila-vivo-em-territorios-multifacetados\/","title":{"rendered":"Suzy Bila: \u201cvivo em territ\u00f3rios multifacetados\u201d"},"content":{"rendered":"<!-- wp:tadv\/classic-paragraph \/-->\r\n<!-- wp:image {\"id\":179,\"sizeSlug\":\"large\",\"linkDestination\":\"none\"} -->\r\n<figure id=\"attachment_132\" aria-describedby=\"caption-attachment-132\" style=\"width: 700px\" class=\"wp-caption aligncenter\"><img loading=\"lazy\" decoding=\"async\" class=\"size-medium wp-image-132\" src=\"https:\/\/www.mozavibe.co.mz\/wp-content\/uploads\/2023\/10\/Suzy-Bila_artista_educadora-700x525.jpeg\" alt=\"\" width=\"700\" height=\"525\" srcset=\"https:\/\/mozavibe.co.mz\/wp-content\/uploads\/2023\/10\/Suzy-Bila_artista_educadora-700x525.jpeg 700w, https:\/\/mozavibe.co.mz\/wp-content\/uploads\/2023\/10\/Suzy-Bila_artista_educadora-768x576.jpeg 768w, https:\/\/mozavibe.co.mz\/wp-content\/uploads\/2023\/10\/Suzy-Bila_artista_educadora-2000x1500.jpeg 2000w, https:\/\/mozavibe.co.mz\/wp-content\/uploads\/2023\/10\/Suzy-Bila_artista_educadora-1536x1152.jpeg 1536w, https:\/\/mozavibe.co.mz\/wp-content\/uploads\/2023\/10\/Suzy-Bila_artista_educadora-400x300.jpeg 400w, https:\/\/mozavibe.co.mz\/wp-content\/uploads\/2023\/10\/Suzy-Bila_artista_educadora-300x225.jpeg 300w, https:\/\/mozavibe.co.mz\/wp-content\/uploads\/2023\/10\/Suzy-Bila_artista_educadora.jpeg 2048w\" sizes=\"(max-width: 700px) 100vw, 700px\" \/><figcaption id=\"caption-attachment-132\" class=\"wp-caption-text\"><em>Suzy Bila \u00e9 artista, educadora e investigadora mo\u00e7ambicana a residir em Portugal<\/em><\/figcaption><\/figure>\r\n<!-- \/wp:image -->\r\n<p>\u00a0<\/p>\r\n<p>\u00a0<\/p>\r\n<p>A artista pl\u00e1stica mo\u00e7ambicana, Suzy Bila, a partir de Portugal, reside a mais de 20 anos, pinta as multifacetadas paisagens do seu mundo, das narrativas e das inspira\u00e7\u00f5es que partem das suas origens ao universo complexo e metamorfoseado. A sua rela\u00e7\u00e3o com a arte, sempre foi de procurar perceber a humanidade e como os processos criativos podem ser factor de socializa\u00e7\u00e3o, inclus\u00e3o e compreens\u00e3o do outro. Nessa busca, tornou-se educadora e investigadora, dando um valor social \u00e0 arte, como pouco se lhe reconhece. Conta-nos nesta entrevista do seu trabalho nos tr\u00eas campos que n\u00e3o procura dividi-los, antes torn\u00e1-los num corpo que simplifica e traz pr\u00e1ticas que podem resolver problemas concretos que o \u201csistema\u201d se mostra incapaz de solucionar. Vamos perceber do que se trata, atrav\u00e9s das perguntas e das respostas que se seguem.<\/p>\r\n<p>\u00a0<\/p>\r\n<p><strong>Mozavibe: Foi no atelier de Noel Langa onde se revelou e aperfei\u00e7oou o talento art\u00edstico. Como se deu esse eclipse total da arte que veio a mudar a tua vida e a definir o que hoje sabemos e vemos\u2026<\/strong><\/p>\r\n<p><strong>Suzy Bila (SB)<\/strong>: Em 1993, conheci Noel Langa, artista pl\u00e1stico residente no bairro Ind\u00edgena, em frente a escola de forma\u00e7\u00e3o de professores. Noel pintava no seu quintal, e eu olhava-o sem que se desse conta da minha presen\u00e7a. Homem de grande humanidade com um olhar diferente sobre a educa\u00e7\u00e3o, acolhia jovens no seu atelier para explora\u00e7\u00e3o art\u00edstica. Foi neste espa\u00e7o que comecei a explorar a aguarela, guache e tive o privil\u00e9gio de partilhar momentos construtivos com artistas de renome, Malangantana, escultores como Alberto Chissano, Samate, V\u00edctor Sousa, Zaqueu\u2026<\/p>\r\n<p>Noel disponibilizava material s\u00f3 para uso dentro do ateli\u00ea. A minha necessidade de continuidade do processo criativo levou-me a usar temperos de cozinha em casa. No segundo ano de frequ\u00eancia do ateli\u00ea, Noel organizou uma exposi\u00e7\u00e3o colectiva de todos os jovens, na qual convidou os nossos pais a estarem presente na inaugura\u00e7\u00e3o. Neste mesmo ano integramos como monitores volunt\u00e1rios no \u201cCirco da paz\u201d projecto entre a UNICEF, o Ateli\u00ea Arco-\u00edris e a Escola Nacional de Artes Visuais, com a actriz Ana Magia, o m\u00fasico Chico Ant\u00f3nio, entre outros. A maioria dos jovens eram futuros professores e rec\u00e9m-formados das Artes Visuais. Esta partilha nos permitia adquirir novas ferramentas e um novo olhar sobre educa\u00e7\u00e3o art\u00edstica que fugia ao que era trabalhado no ensino oficial. A forma\u00e7\u00e3o de monitores, trazia novas metodologias que nos permitiam reflectir sobre a natureza do acto de criar e as condi\u00e7\u00f5es em que este pode ocorrer e a forma como ele pode construtivamente ser desenvolvido.<\/p>\r\n<p>\u00a0<\/p>\r\n<p><strong>M: Parte para Portugal, em 1996 j\u00e1 artista. Fale-nos da chegada num outro pa\u00eds, outras paisagens. Quais foram as tuas primeiras impress\u00f5es?<\/strong><\/p>\r\n<p><strong>SB<\/strong>: Quando cheguei a Portugal vinha a uma cidade em metamorfose, de uma intensidade de viv\u00eancias e envolv\u00eancias em exposi\u00e7\u00f5es, workshops, bienais, concursos de Arte... A cidade de Maputo abrira portas \u00e0s mulheres artistas, fui uma dessas poucas que desbravou territ\u00f3rios vestidos por homens. Em Lisboa senti-me isolada, n\u00e3o havia tanta mo\u00e7ambicanidade como h\u00e1 agora. Em algum tempo senti uma grande nostalgia. O choque cultural era bastante vis\u00edvel no trato e na exuber\u00e2ncia do poder, todos queriam ensinar-me a ser e estar como se tudo o que me fez mulher n\u00e3o fosse importante.<\/p>\r\n<p>Senti que havia a necessidade de mostrarem que eram a raz\u00e3o e a verdade nas artes, que os artistas s\u00f3 poderiam cifrar dentro de par\u00e2metros restritamente criados por um conjunto de leigos que simbolizavam a arte portuguesa. Procurei construir meu trabalho silenciosamente e exigindo cada vez mais de mim. Sempre tive uma forte for\u00e7a de fugir constantemente de lugares nos quais me sentia a mais, onde alguns faziam quest\u00e3o de reclamar o \u201cn\u00f3s e eles\u201d. O ambiente art\u00edstico era uma arena na qual os artistas de pa\u00edses africanos acabavam por desistir.<\/p>\r\n<p>\u00a0<\/p>\r\n<p><strong>M: E no que trabalhou ao chegar em Portugal?<\/strong><\/p>\r\n<p><strong>SB<\/strong>: O meu primeiro trabalho foi numa casa de acolhimento onde a experi\u00eancia e a aus\u00eancia de espa\u00e7o art\u00edstico nestes lugares desafiou-me a um investimento cont\u00ednuo nas metodologias de interven\u00e7\u00e3o atrav\u00e9s da arte. Tendo feito a licenciatura em Educa\u00e7\u00e3o e um mestrado no qual escrevi artigos sobre a integra\u00e7\u00e3o da arte na minha pr\u00e1tica na primeira inf\u00e2ncia.<\/p>\r\n<p>Ao integrar em uma Equipa de Interven\u00e7\u00e3o e Capacita\u00e7\u00e3o Familiar na Santa Casa da Miseric\u00f3rdia de Lisboa (SCML), vinha de uma experi\u00eancia em sala com crian\u00e7as dos 0 aos 6 anos. A minha primeira observa\u00e7\u00e3o ao trabalho feito pelos assistentes sociais e psic\u00f3logos, na rela\u00e7\u00e3o com a fam\u00edlia, real\u00e7ava uma organiza\u00e7\u00e3o das situa\u00e7\u00f5es de vida das fam\u00edlias complexas. Quando nos focamos na neglig\u00eancia entramos no mundo da imprevisibilidade, no qual somos confrontados com um mundo ca\u00f3tico em que nos esfor\u00e7amos por lhe dar coer\u00eancia. \u00a0Tendo em conta que um indiv\u00edduo influencia o condicionamento da sociedade e a sequ\u00eancia de sua hist\u00f3ria no tempo, da mesma forma em que \u00e9 condicionado pela sociedade e pelo seu processo hist\u00f3rico, era emergente a cria\u00e7\u00e3o de projectos sustent\u00e1veis que nos desafiassem a mudan\u00e7as na interven\u00e7\u00e3o junto das crian\u00e7as e jovens com um olhar \u00e0 temporalidade da interven\u00e7\u00e3o. Olharmos as diferentes dimens\u00f5es e perspetivas, para que a criticidade nos possa permitir respostas construtivas e caminhos coerentes com as necessidades e peculiaridades culturais de cada fam\u00edlia.<\/p>\r\n<p>\u00a0<\/p>\r\n<p><strong>M: Esta afirma\u00e7\u00e3o sua numa entrevista, deixou-me num certo encanto: \u201cOlhando para tr\u00e1s vejo uma rela\u00e7\u00e3o simbi\u00f3tica entre o nutrir a alma e o acabar com a fome\u201d. Queres comentar essas palavras? <\/strong><\/p>\r\n<p><strong>SB<\/strong>: A minha arte n\u00e3o pertence a defini\u00e7\u00e3o \u201cinstitucionalizada\u201d, vivo em territ\u00f3rios multifacetados. Os lugares onde a arte processa no meu caminho art\u00edstico estiveram sempre relacionados com o espa\u00e7o ocupado pela mulher no quotidiano familiar e no nosso contexto social. Quando comecei a pintar no atelier do Noel Langa, os materiais por ele providenciados (aguarelas, papel, pinc\u00e9is) ficavam no atelier. A necessidade que tinha de continuidade fez com que descobrisse ou experimentasse outros materiais naturais na \u201ccozinha da minha m\u00e3e\u201d, temperos (colher\u00e3o, caril, caf\u00e9, plantas) conseguia criar cores que me permitiam coisas que a aguarela n\u00e3o conseguia me dar. Anos depois quando cheguei a Portugal, vivi no Campo do Ourique, lugar onde nasceu o meu primeiro filme, em 1997. N\u00e3o conhecia quase ningu\u00e9m, a minha vida estava reduzida aos cuidados do meu filme e a criar as minhas pe\u00e7as nas paredes da cozinha. Situa\u00e7\u00e3o que voltara a acontecer no ano 1999, quando conheci o Eurico Gon\u00e7alves, ele ficou surpreendido quando conheceu o lugar t\u00e3o pequeno na cozinha, onde havia pintado as pe\u00e7as enormes. Quis perceber como fazia, estive na cozinha com ele, a descrever todo processo. Eurico, gargalhou de forma aut\u00eantica, pessoa especial, que guardo comigo. Sinto que o espa\u00e7o da cozinha, est\u00e1 simbioticamente relacionado com o meu processo criativo. Hoje em dia, \u00e9 na cozinha onde crio as pe\u00e7as de cer\u00e2mica. Sinto-me bem neste lugar. N\u00e3o sou uma excelente cozinheira, mas organiza-me e sinto a perten\u00e7a.<\/p>\r\n<p>\u00a0<\/p>\r\n<p><img loading=\"lazy\" decoding=\"async\" class=\"aligncenter wp-image-180 size-full\" src=\"https:\/\/www.mozavibe.co.mz\/wp-content\/uploads\/2023\/10\/Suzy-Bila-atelier.jpg\" alt=\"\" width=\"960\" height=\"717\" srcset=\"https:\/\/mozavibe.co.mz\/wp-content\/uploads\/2023\/10\/Suzy-Bila-atelier.jpg 960w, https:\/\/mozavibe.co.mz\/wp-content\/uploads\/2023\/10\/Suzy-Bila-atelier-700x523.jpg 700w, https:\/\/mozavibe.co.mz\/wp-content\/uploads\/2023\/10\/Suzy-Bila-atelier-768x574.jpg 768w, https:\/\/mozavibe.co.mz\/wp-content\/uploads\/2023\/10\/Suzy-Bila-atelier-402x300.jpg 402w, https:\/\/mozavibe.co.mz\/wp-content\/uploads\/2023\/10\/Suzy-Bila-atelier-300x224.jpg 300w\" sizes=\"(max-width: 960px) 100vw, 960px\" \/><\/p>\r\n<p>\u00a0<\/p>\r\n<p><strong>M: Como foi a afirma\u00e7\u00e3o no espa\u00e7o art\u00edstico?<\/strong><\/p>\r\n<p><strong>SB<\/strong>: A evolu\u00e7\u00e3o tecnol\u00f3gica acabou por ser a melhor porta de rela\u00e7\u00e3o com o mundo, onde projetei-me sozinha para todos os cantos do mundo. Aprendi a criar site, blogues e a manipular as redes sociais a favor daquilo que me interessa no mundo art\u00edstico. A inser\u00e7\u00e3o no mercado das galerias, colecionadores, curadores que abra\u00e7am o paradigma da arte contempor\u00e2nea acontece gradualmente, com as pessoas certas. Oportunidades de partilha do meu trabalho foram surgindo e tudo foi seguindo como agora no seu leito.<\/p>\r\n<p>\u00a0<\/p>\r\n<p><strong>M: Entretanto, para l\u00e1 dos pinc\u00e9is \u00e9 educadora e investigadora. Do que se trata essencialmente esse trabalho e a que problemas procura dar respostas?<\/strong><\/p>\r\n<p><strong>SB<\/strong>: Agora como educadora artista e investigadora, questiono o meu papel constantemente, quando estou em contexto de interven\u00e7\u00e3o social n\u00e3o procura formar artistas, metamorfoseio-me na comunidade, escutando a voz e as necessidades intr\u00ednsecas dos que dela usufruem, gerando multiplicidades e agenciamentos. Procuro em todos os movimentos, desde o canto \u00e0 dramatiza\u00e7\u00e3o, criar mapas que lhes permitam formas de estar entre as diferentes descobertas, criando fluidez entre os interesses do desenvolvimento da identidade e da autenticidade. Este movimento, vivido, est\u00e1 permanentemente no quotidiano, resultando da express\u00e3o particular de cada um, que podemos encontrar nas pedagogias contra o sistema e que se preocupam com a disrup\u00e7\u00e3o, a preconcep\u00e7\u00e3o.<\/p>\r\n<p>A educa\u00e7\u00e3o art\u00edstica percorre processos que tenham em conta este movimento vivido, os diferentes perfis e reflexos e os seus significados. Procura conhecer o desejo de encontro, de articula\u00e7\u00e3o dos recursos e a gest\u00e3o dos sentimentos inerentes, gerando processos de perten\u00e7a m\u00fatua. Apelamos a discursos, pr\u00e1ticas e desejos espec\u00edficos que estabelecem uma estrutura cr\u00edtica e reflexiva, que vivem nas nossas descri\u00e7\u00f5es dos contextos onde cada processo foi poss\u00edvel (desde o espa\u00e7o habitacional, os diferentes lugares explorados, as viagens do metro, caf\u00e9s, museus, ateliers conjuntos...). Procuramos a apropria\u00e7\u00e3o de part\u00edculas das narrativas do outro numa nova rela\u00e7\u00e3o como autor do novo discurso que se procura articular com o discurso que h\u00e1 no mundo.<\/p>\r\n<p>\u00c9 isto que sonho para o nosso Mo\u00e7ambique, uma educa\u00e7\u00e3o que responde aos problemas das nossas crian\u00e7as e jovens. Porque eles teem problemas pr\u00f3prios que precisam serem respondidos \u00e0 medida das suas especificidades.<\/p>\r\n<p>\u00a0<\/p>\r\n<p><img loading=\"lazy\" decoding=\"async\" class=\"aligncenter wp-image-181 size-large\" src=\"https:\/\/www.mozavibe.co.mz\/wp-content\/uploads\/2023\/10\/Suzy-Bila_Paisagens-interiores-2000x1333.jpg\" alt=\"\" width=\"2000\" height=\"1333\" srcset=\"https:\/\/mozavibe.co.mz\/wp-content\/uploads\/2023\/10\/Suzy-Bila_Paisagens-interiores-2000x1333.jpg 2000w, https:\/\/mozavibe.co.mz\/wp-content\/uploads\/2023\/10\/Suzy-Bila_Paisagens-interiores-700x467.jpg 700w, https:\/\/mozavibe.co.mz\/wp-content\/uploads\/2023\/10\/Suzy-Bila_Paisagens-interiores-768x512.jpg 768w, https:\/\/mozavibe.co.mz\/wp-content\/uploads\/2023\/10\/Suzy-Bila_Paisagens-interiores-1536x1024.jpg 1536w, https:\/\/mozavibe.co.mz\/wp-content\/uploads\/2023\/10\/Suzy-Bila_Paisagens-interiores-449x300.jpg 449w, https:\/\/mozavibe.co.mz\/wp-content\/uploads\/2023\/10\/Suzy-Bila_Paisagens-interiores-450x300.jpg 450w, https:\/\/mozavibe.co.mz\/wp-content\/uploads\/2023\/10\/Suzy-Bila_Paisagens-interiores-300x200.jpg 300w, https:\/\/mozavibe.co.mz\/wp-content\/uploads\/2023\/10\/Suzy-Bila_Paisagens-interiores.jpg 2048w\" sizes=\"(max-width: 2000px) 100vw, 2000px\" \/><\/p>\r\n<p>\u00a0<\/p>\r\n<p><strong>M: Olhando para o seu trabalho veem-me sempre a palavra \u201cmetamorfose\u201d e \u201cintrospe\u00e7\u00e3o\u201d. A sensa\u00e7\u00e3o de uma constante procura pela profundidade das coisas. Que lugar \u00e9 esse onde a Suzy busca as representa\u00e7\u00f5es?<\/strong><\/p>\r\n<p><strong>SB<\/strong>: Gosto de construir caminhos, viver experi\u00eancias \u00fanicas com pessoas, criadores ou n\u00e3o... Gosto de aprender todos os dias...A sorte tamb\u00e9m se procura, ou n\u00e3o...talvez o trabalho crie o seu pr\u00f3prio caminho. Sou uma mulher ativa e inserida no contexto da interven\u00e7\u00e3o social, onde lido com diferentes culturas. E nesses lugares apercebo-me das dificuldades de ser estrangeiro. Muitos me olham com admira\u00e7\u00e3o e chegam a dizer-me pessoalmente nesses momentos tudo faz sentido, o impacto do nosso papel junto do outro.<\/p>\r\n<p>\u00a0<\/p>\r\n<p><strong>M: H\u00e1 cada vez mais artistas mo\u00e7ambicanos a surgir e com ambi\u00e7\u00f5es de se expor ao mundo. H\u00e1 inclusive os que j\u00e1 tem feito parte de mostras internacionais. H\u00e1 um espa\u00e7o para a nossa arte nos diferentes territ\u00f3rios? Que desafios se colocam para o posicionarmos de artistas mo\u00e7ambicanos de forma global, partindo da sua experi\u00eancia?<\/strong><\/p>\r\n<p><strong>SB<\/strong>: Enquanto o ocidente detiver o monop\u00f3lio da defini\u00e7\u00e3o est\u00e9tica de Arte, dificilmente conseguiremos um lugar. Mas quando descortinarmos este lugar, percebemos a import\u00e2ncia da \u00c1frica na Arte Contempor\u00e2nea. No meu trabalho procurei sempre a pluralidade de viv\u00eancias pessoais, sempre fiz da ideia de uma \u00c1frica generalizada e de um discurso de pr\u00e1ticas que aprisionam o meu pensamento, isso acabava por ser a raz\u00e3o da minha for\u00e7a, o vector principal de mudan\u00e7a e de procura de uma express\u00e3o pr\u00f3pria.<\/p>\r\n<p>\u00a0<\/p>\r\n<p><strong>M: Disse-nos que sonha para Mo\u00e7ambique uma \u201ceduca\u00e7\u00e3o que responde aos problemas das nossas crian\u00e7as e jovens\u201d. Pode, agora, fundamentar o que guia esse sonho e no que isso consistiria?<\/strong><\/p>\r\n<p><strong>SB<\/strong>: O risco e o perigo que moldam o nosso quotidiano cultural em Mo\u00e7ambique n\u00e3o tem muitas respostas, \u00e9 normal nas nossas ruas vermos crian\u00e7as a vender, ou a viverem nas ruas. Cresci a ver e ouvir a palavra \u201cMolwene\u201d, quando surgir\u00e1 uma legisla\u00e7\u00e3o e programas espec\u00edficos oficiais que v\u00e3o dar respostas a situa\u00e7\u00e3o da crian\u00e7a de rua?<\/p>\r\n<p>Em Portugal sou t\u00e9cnica que trabalha com crian\u00e7as e jovens em risco e perigo, desafio-me a novas experi\u00eancias e novos significados que invocam a necessidade de investigar novos olhares e a uma nova pr\u00e1tica que possa um dia apoiar o nosso Mo\u00e7ambique. Tornou-se primordial reflectir sobre as quest\u00f5es fundamentais da educa\u00e7\u00e3o, sendo que a arte poder\u00e1 trazer ferramentas para melhor compreens\u00e3o dos problemas dos nossos \u201cMolwenes\u201d e das pr\u00e1ticas e pol\u00edticas sociais como a multiculturalidade, inclus\u00e3o, abrindo possibilidades de reflectir sobre a ideia de aprender com as comunidades e as suas din\u00e2micas.<\/p>\r\n<p>Foi nesta complexidade de circunst\u00e2ncias que se tornou pertinente a minha investiga\u00e7\u00e3o, n\u00e3o s\u00f3 pela motiva\u00e7\u00e3o pessoal de poder unir tr\u00eas profiss\u00f5es \u2013 investigadora\/artista \/educadora. Mas com a ideia de investigar a natureza do ato criativo, as condi\u00e7\u00f5es em que poder\u00e1 ocorrer e a forma como ele pode ser construtivamente desenvolvido, desconstruindo processos inerentes aos modelos de interven\u00e7\u00e3o junto das crian\u00e7as e jovens em situa\u00e7\u00e3o de risco e perigo, recorrendo \u00e1 o m\u00e9todo de pesquisa a\/r\/togr\u00e1fia por esta ter profundas rela\u00e7\u00f5es com a investiga\u00e7\u00e3o-a\u00e7\u00e3o e intervencionista. Reflete uma pr\u00e1tica viva em que as pr\u00f3prias pr\u00e1ticas dos professores e artistas tornam-se locais\/ambientes de investiga\u00e7\u00e3o.<\/p>\r\n<p>Era crucial participar nos processos de mudan\u00e7a das din\u00e2micas junto da comunidade educativa do pa\u00eds que me viu nascer, e intervindo como mediador ao criar espa\u00e7os de complementaridade, onde poderemos construir pr\u00e1ticas que nos levam a idealizar novos ambientes que n\u00e3o se foquem num ensino informativo, mas que possibilitem \u00e0 crian\u00e7a e ao jovem um tempo de incorporar o que vive nos seus contextos habituais de vida atrav\u00e9s das linguagens art\u00edsticas.<\/p>\r\n<p>\u00a0<\/p>\r\n<p><strong>Por Eduardo Quive<\/strong><\/p>\r\n<!-- wp:image --><!-- \/wp:image -->\r\n<!-- wp:image --><!-- \/wp:image -->\r\n<!-- wp:image --><!-- \/wp:image -->","protected":false},"excerpt":{"rendered":"<p>A artista pl\u00e1stica mo\u00e7ambicana, Suzy Bila, a partir de Portugal, reside a mais de 20 anos, pinta as multifacetadas paisagens do seu mundo, das narrativas e das inspira\u00e7\u00f5es que partem das suas origens ao universo complexo e metamorfoseado. A sua rela\u00e7\u00e3o com a arte, sempre foi de procurar perceber a humanidade e como os processos criativos podem ser factor de socializa\u00e7\u00e3o, inclus\u00e3o e compreens\u00e3o do outro.<\/p>\n","protected":false},"author":2,"featured_media":132,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"wds_primary_category":7,"footnotes":""},"categories":[16,7],"tags":[28,29,112,27],"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/mozavibe.co.mz\/pt_PT\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/131"}],"collection":[{"href":"https:\/\/mozavibe.co.mz\/pt_PT\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/mozavibe.co.mz\/pt_PT\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/mozavibe.co.mz\/pt_PT\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/mozavibe.co.mz\/pt_PT\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=131"}],"version-history":[{"count":16,"href":"https:\/\/mozavibe.co.mz\/pt_PT\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/131\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":734,"href":"https:\/\/mozavibe.co.mz\/pt_PT\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/131\/revisions\/734"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/mozavibe.co.mz\/pt_PT\/wp-json\/wp\/v2\/media\/132"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/mozavibe.co.mz\/pt_PT\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=131"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/mozavibe.co.mz\/pt_PT\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=131"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/mozavibe.co.mz\/pt_PT\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=131"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}