Quando o teatro “cutuca” o esquecimento

Foto: Ailton Zimila

Phayra Baloi e equipa levaram um mês e onze dias para montar o espectáculo “Nossos Cor(p)us”. Uma das mais recentes obras do teatro moçambicano nasceu de uma pesquisa sobre as matanças em Cabo Delgado e outros martírios que ocorrem no país.
Resulta, igualmente, do esquecimento. Eventos históricos marcantes são esquecidos e já se sabe que uma nação sem história não pode esperar muita coisa do futuro, pois não sabe por onde começar.
Entre os eventos esquecidos estão o massacre de Wiriyamu. “Será que não nos vamos esquecer de Mieze? Ou de qualquer outro distrito a norte? Então, dentro desse contexto, interessava-me discutir a migração influenciada pela guerra e usar o teatro para fazer uma ode aos militares que esquecemos e a alguns que nem conhecemos”, questiona Phayra Baloi, encenador da obra.
A intenção do espectáculo é clara e, por vezes subjectiva. “Nossos Corp(u)s”, como se avançou, questiona as narrativas individuais e colectivas que cada indivíduo carrega. Investiga a influência da matéria sobre si mesma e como ela molda as histórias que muitas pessoas contam e vivem.
A trama centra-se em Sunama, uma mulher de origem humilde, filha de pais de diferentes regiões, que enfrenta um destino trágico. A vida desta personagem é marcada pelo casamento com um jovem cujo percurso é definido por aventuras em defesa da pátria, um caminho que simboliza as complexidades e tragédias associadas ao seu nome.
“É que Sunama significa tristeza em nyungue”, explicou Phayra Baloi, também responsável pelo design de luz e que acrescentou: “ela é uma personagem que criou ao explorar as várias línguas faladas na província de Tete e trouxe-na como esposa de um machangana que a abandona para ir à guerra”.
A sinopse sugere que esses “Corpus/corpos” não estão apenas em busca de um futuro, mas também de um propósito existencial, evidenciando as tensões dramáticas e históricas que definem a trajectória dos personagens.
Assim, a performance desafia o público a reflectir sobre o papel do corpo na construção da identidade e da memória, bem como revela um diálogo constante entre o passado, presente e as possibilidades do futuro.
A peça conta com a participação dos actores Lírico Poético, Aura Cossa, Orlas Intimane, Clayda Beque, Ramadane Matusse e Solange Charles. Sumalgy Nuro e Gerson Mbalango estão no som, Fernanda Muhambe na cenografia e figurinos, Ildefonso Colaço na fotografia, Molotov II e Ailton Zimila no vídeo, Lillian Benny na voz off, Nyles Cossa na direcção do corpo/coreografia, João Manuel no design visual e Lúcia Comé na produção.

(Por Mozavibe)