O Silêncio das Veias

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Há um peso que não se mede em quilos. Um peso que, muitas vezes, não reside apenas no corpo, mas se aloja nas entranhas da alma. O peso de viver com o HIV, desde os primeiros suspiros da vida, ou até inopinadamente, na plenitude da idade adulta. Um peso que transcende o biológico. Não é a carga das células infectadas que o define, mas o fardo de ser observado como diferente, como se a essência humana pudesse ser reduzida a um diagnóstico. É o peso de viver com a ignomínia de ser apontado como indigno.

À medida que a ciência, com a sua galhardia inegável, nos trouxe os antirretrovirais que transformaram uma sentença de morte numa vida possível, ainda há quem impetuosamente questione onde estão as receitas para curar o estigma – uma epidemia mais letal do que o próprio vírus. A medicina pode prolongar a vida humana; no entanto, só a humanidade pode salvar a dignidade.

Ainda assim, há um contraponto que precisa de ser reconhecido: a resiliência. Há beleza, também, na singularidade desta situação hostil. Tal como na arte da guerra, a astúcia de conhecer o inimigo transforma cada soldado, em batalha, no próprio general do seu destino. O HIV ensina resiliência, mas também ensina humanidade. Não se trata apenas de sobreviver, mas de viver com propósito, autenticidade e coragem. Se o diagnóstico é um desafio, a superação é uma ode à capacidade humana de adaptação.

Quem convive com o vírus aprende que a vida é um território de conquistas diárias, onde cada vitória, por menor que pareça, carrega um valor inestimável, tornando a existência um testemunho vivo de superação.

O Dia Mundial do HIV/SIDA não é um adorno para a causa, mas um símbolo que vai além da luta – é um emblema de conquistas silenciosas. É a história de jovens que, apesar de todas as dificuldades, chegam à idade adulta, formam famílias, constroem carreiras e transformam as narrativas ao seu redor. É a prova de que viver com HIV não é sinónimo de viver à margem.

(Por Rafael Langa)