Saco plástico: um perigo a saúde dos oceanos e responsável pela poluição marinha

  1. \"""\"O saco plástico se tornou um dos itens mais utilizados do mundo. Apesar de ser bastante acessível, ele se tornou um dos maiores vilões para a saúde do meio ambiente e principalmente, nos oceanos. Segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU) de 2018, os oceanos recebem por ano cerca de oito milhões de toneladas de plástico. Uma quantidade que choca e que de acordo com especialistas e pesquisadores da área poderá crescer ao longo dos anos.

Apesar de algumas embalagens serem apresentadas como biodegradável, isto não garante uma diferença considerável no consumo e na reutilização daquele. Dai, que é importante encontrar alternativas que possam, verdadeiramente, poupar o planeta.

Em Moçambique, a problemática do plástico também é evidente, com desafios específicos e que precisam ser entendidos para que sejam encontradas soluções eficientes.

 

Confira a entrevistaespecial com Gésica Canivete, oceanógrafa e membro fundadora da Marmo (Mar Moçambique), uma associação de jovens apaixonados pelos oceanos e sua diversidade preocupados com a saúde do oceano.

 

M: Por que o plástico se tornou, em termos ambientais, um dos maiores desafios ambientais do século? Será pela impossibilidade de degradação ou há outras razões?

GC:O plástico se tornou um desafio ambiental significativo devido à sua resistência à degradação, resultando em acumulação massiva e poluição. A produção intensiva de petróleo, os produtos químicos nocivos e os impactos na vida selvagem também contribuem para seu impacto negativo. O descarte inadequado amplifica o problema, afetando ecossistemas e a saúde humana. O desafio reside em encontrar alternativas sustentáveis e práticas para reduzir a dependência do plástico.

 

M: Muitas embalagens plásticas apresentam o selo de produto biodegradável. O plástico chamado de biodegradável traz uma diferença considerável e concreta no consumo?

GC: O termo \"biodegradável\" em embalagens plásticas refere-se à capacidade do material de se decompor mais rapidamente do que os plásticos tradicionais. No entanto, a presença do selo \"biodegradável\" não garante uma diferença considerável no consumo e na reutilização do plástico. Aqui estão alguns pontos a serem considerados:

  • Impacto Limitado: Plásticos biodegradáveis podem se decompor mais rápido, mas o impacto ambiental ainda existe, com possíveis resíduos tóxicos.
  • Condições Específicas: A biodegradação eficaz requer condições específicas, nem sempre presentes em aterros sanitários comuns.
  • Microplásticos: Algumas variantes biodegradáveis podem se fragmentar em microplásticos, mantendo riscos ambientais.
  • Infraestrutura Limitada: A produção e a reciclagem de plásticos biodegradáveis têm limitações na escala e infraestrutura.
  • Consumo Responsável: A chave está no consumo responsável, reutilização e na promoção de materiais duráveis para enfrentar o problema do plástico.

 

M: Qual é a percentagem do plástico produzido em Moçambique é reciclado? Qual seria o melhor modo de enfrentar as dificuldades acerca da reciclagem de plástico?

GC: Em Moçambique, a problemática do plástico também é evidente, com desafios específicos:

  • Gestão de Resíduos: A infraestrutura de gestão de resíduos pode ser limitada, o que aumenta a probabilidade de descarte inadequado de plásticos, contribuindo para a poluição ambiental.
  • Educação Ambiental: Iniciativas de educação ambiental são fundamentais para sensibilizar a população sobre o descarte adequado de plásticos e promover práticas sustentáveis.
  • Alternativas Sustentáveis: Explorar e promover alternativas sustentáveis aos plásticos convencionais pode ser crucial, considerando a diversidade de ecossistemas em Moçambique.
  • Inovação Local: Apoiar a inovação local para o desenvolvimento de soluções específicas pode desempenhar um papel significativo na redução do impacto ambiental dos plásticos.
  • Cooperação Internacional: A cooperação internacional pode fortalecer esforços para enfrentar desafios compartilhados, como a poluição por plásticos, promovendo boas práticas e tecnologias sustentáveis.

Assim, abordar a questão do plástico em Moçambique requer uma abordagem integrada que considere a infraestrutura existente, promova a conscientização e fomente a inovação local para soluções sustentáveis.

 

M: Há alguns anos se discutiu no país a legislação sobre o uso de sacolas plásticas nos supermercados e também foi cogitada a possibilidade de proibir o uso dessas sacolas, mas a medida não teve adesão popular. Por que, na sua avaliação, ainda há resistência nesse sentido?

GC: Várias razões podem explicar a resistência à proibição ou restrição do uso de sacolas plásticas, mesmo quando discutidas em termos de legislação. Algumas dessas razões incluem:

  • Conveniência e Hábito: Resistência devido à conveniência e hábito arraigado no uso de sacolas plásticas.
  • Falta de Alternativas Acessíveis: Resistência quando opções sustentáveis não são facilmente disponíveis ou percebidas como caras.
  • Informação Insuficiente: Resistência pela falta de conscientização sobre impactos ambientais e necessidade da mudança.
  • Aspectos Culturais e Sociais: Resistência baseada em práticas sociais enraizadas associadas ao uso de sacolas plásticas.
  • Fiscalização e Implementação Fracas: Resistência quando medidas não são fiscalizadas efetivamente ou não há aplicação de penalidades.

Para superar essa resistência, é essencial envolver a comunidade, fornecer alternativas acessíveis, conscientizar sobre os impactos ambientais e garantir uma transição suave por meio de políticas bem implementadas e fiscalização adequada.

 

M: Faz parte da Marmo (Mar Moçambique), uma associação de jovens apaixonados pelos oceanos e sua diversidade preocupados com a saúde do oceano. De forma concreta, quais são as ações que têm desenvolvido para um oceano saudável?

GC: Como Mar Moçambique, dedicamo-nos à preservação, conservação e manejo sustentável dos ecossistemas marinhos e costeiros. Implementamos diversas iniciativas específicas para mitigar e prevenir a poluição marinha por plásticos, incluindo:

  • Campanhas de Limpeza Costeira: Organizamos eventos para limpar praias e áreas costeiras, especialmente manguezais, removendo resíduos e plásticos antes que alcancem o oceano.
  • Educação Ambiental: Desenvolvemos programas educativos para escolas primárias e comunidades, visando conscientizar sobre a importância da preservação marinha, valorização dos manguezais e redução da poluição.
  • Monitoramento e Pesquisa: Realizamos estudos e projetos de monitoramento para avaliar a saúde dos ecossistemas marinhos, observando a biodiversidade, qualidade da água e impactos das mudanças climáticas.
  • Promoção da Sustentabilidade Pesqueira: Trabalhamos com pescadores locais para promover práticas de pesca sustentável, conscientizando sobre a importância da conservação das espécies marinhas, e também envolvendo-os em projetos de aquicultura, capacitando técnicos da comunidade.
  • Desenvolvimento de Parcerias: Colaboramos com outras organizações, agências governamentais e empresas para implementar estratégias conjuntas em prol da saúde e conservação dos oceanos.

Estas atividades refletem nosso compromisso em abordar a poluição marinha por plásticos de maneira abrangente, envolvendo a comunidade e estabelecendo parcerias para alcançar resultados sustentáveis.

 

M: Durante as vossas actividades qual é a principal dificuldade para a sensibilização para a mudança de consciência em relação ao uso do plástico?

GC: A principal dificuldade é a resistência às mudanças de hábitos arraigados, especialmente quando o plástico é visto como conveniente. A falta de conscientização sobre os impactos ambientais também é um desafio.

 

 

M: Apesar do foco no saco plástico, para a Marmo, existirão outros vilões que colocam em causa a limpeza e sustentabilidade do oceano?

GC: Sim, além das sacolas plásticas, a Marmo reconhece que outros resíduos plásticos, como garrafas e embalagens, representam ameaças significativas à limpeza e sustentabilidade dos oceanos.

 

M: Que hipóteses existem até agora? A Marmo consegue visualizar um futuro sem plástico nos oceanos?

GC: A Marmo acredita que, com esforços contínuos de sensibilização, regulamentação eficaz e investimento em alternativas sustentáveis, é possível visualizar um futuro com menos plástico nos oceanos.

 

M: Como o depósito de plástico nos mares tem impactado os oceanos? É possível estimar a percentagem de plástico depositado nos oceanos actualmente? Pode nos dar exemplos de como a biodiversidade marinha tem sido afetada por conta disso?

GC: O depósito de plástico nos mares tem impactos sérios na vida marinha, causando poluição, ingestão acidental por animais e danos a ecossistemas. A biodiversidade marinha sofre com a contaminação e degradação do habitat.

Estimar o percentual exato é desafiador, mas estudos indicam que milhões de toneladas de plástico entram nos oceanos anualmente, resultando em poluição generalizada.

 

M: Ainda é possível imaginar uma realidade sem a dependência? Temos alternativas ao plástico hoje?

GC: Sim, é possível reduzir a dependência do plástico e existem várias alternativas disponíveis no mercado atualmente. Embora o plástico seja amplamente utilizado devido à sua versatilidade e durabilidade, seu impacto ambiental significativo, especialmente em termos de poluição nos oceanos e danos aos ecossistemas, tornou evidente a necessidade de buscar alternativas mais sustentáveis.

 

São alternativas ao uso do plástico e maneiras de reduzir sua dependência:

  • Os Bioplásticos: São materiais similares ao plástico, e podem ser biodegradáveis ou compostáveis, reduzindo o impacto ambiental em comparação com os plásticos convencionais.
  • Materiais de Embalagem Alternativos: Existem embalagens feitas de materiais biodegradáveis, como papel, palha, etc.
  • Reutilização e Reciclagem: Promover o reuso de produtos e embalagens pode reduzir significativamente a necessidade de novos plásticos.
  • Redução do Uso de Plástico Descartável: Optar por itens reutilizáveis, como garrafas de água, sacolas de compras reutilizáveis, talheres de metal e recipientes de armazenamento reutilizáveis, em vez de produtos descartáveis de plástico, ajuda a reduzir o consumo de plástico.
  • Inovação em Materiais: Pesquisas constantes estão sendo feitas para desenvolver novos materiais que possam substituir o plástico, como plásticos de base biológica mais sustentáveis, materiais compostáveis e alternativas de embalagem inovadoras.

 

Embora existam alternativas ao plástico, a transição para essas opções pode exigir mudanças em larga escala nas indústrias, legislações governamentais favoráveis, educação pública e um esforço coordenado de várias partes interessadas, incluindo empresas, governos e consumidores.

 

M: Deseja acrescentar algo?

GC: Os desafios que enfrentamos são substanciais, no entanto, a Marmo, assim como outras organizações dedicadas à conservação marinha, enxerga oportunidades cruciais na inovação, educação e colaboração entre comunidades, governos e setor privado para confrontar a crise do plástico nos oceanos.

Embora o interesse público pelo problema esteja crescendo, reconhecemos que ainda há muito a ser feito. Cada pequena mudança individual em direção a alternativas mais sustentáveis representa um passo significativo no longo prazo para reduzir nossa dependência do plástico. Acreditamos que a conscientização e a adoção de práticas sustentáveis podem catalisar uma transformação positiva, e estamos comprometidos em inspirar mudanças tanto a nível individual quanto coletivo. Juntos, podemos construir um futuro mais saudável para nossos oceanos e para o planeta como um todo.