De malas feitas para França e Togo onde vai representar Moçambique no mundial de poesia falada, Poetry Slam World Cup, e no campeonato africano de poesia, a poetisa moçambicana, vencedora da 5.ª edição do Moz Slam, Neide Sigaúque, concedeu-nos uma entrevista a falar da sua trajetória e o processo de preparação para os próximos campeonatos.
Mozavibe (M): Neide, antes de tudo, conta-nos um pouco sobre como a poesia apareceu na sua vida e o que ela significa para si hoje?
Neide Sigaúque (NS): A poesia apareceu na minha a 3 anos, digo, comecei a escrever em meados de 2020, mas antes disso, eu já lia livros de poesia, escrevia letras de músicas gospel e textos de intervenção social. O meu primeiro poema foi resultado de um auto-desafio que consistia em transformar um dos meus textos de intervenção social em poesia que acabou dando vida ao poema intitulado: Discrepâncias. Hoje a poesia é o leito onde encontro paz, onde posso descrever as minhas dores e as dos outros, onde posso chorar e também tento ser feliz. Um instrumento que uso para fazer activismo, para dar voz aos sem voz (como diria um autor cujo nome desconheço), para denunciar a violência, para desmotivar a corrupção, para gritar contra o terrorismo, para chamar a reflexão e apelar a mudança.
M: Como foi o processo de preparação para a 5.ª edição do Moz Slam?
NS: O processo de preparação foi maravilhoso, às vezes doloroso e tanto que desafiador. Comecei a escrever depois de ter sido apurada para a semifinal, na eliminatória em que fui seleccionada percebi que os meus textos eram bons, mas se eu quisesse vencer deveria me reinventar e fiz o TPC que doravante me autoatribuía. Escrevi novos textos, memorizei, ensaiei com amigos e esse processo de preparação custou-me algumas noites. Orei muito. Em tudo o que nós nos propomos a fazer devemos ajoelhar-nos e pedir a Deus que esteja na dianteira de tudo. Deus é fiel e esteve comigo desde o momento da preparação, na semifinal e na grande final.
M: Conseguiu conquistar um júri, passando a frente de vários outros concorrentes. Qual foi o segredo?
NS: O segredo é a preparação, auto-confiança, conteúdo bem elaborado e carisma. Sou uma pessoa muito ansiosa e nervosa, mas curiosamente, no dia da semi-final e da grande final eu estava muito calma, creio que foi mesmo por causa da preparação que já tinha iniciado a bastante tempo, a consciência de que eu tinha o domínio dos textos, confiança nas minhas habilidades e na fidelidade de Deus. Os meus textos eram de intervenção social e retratavam situações do quotidiano, penso que isso fez com que eles se sentissem identificados com os textos.
M: Agora, tem a responsabilidade de representar o país no mundial da poesia que terá lugar na França e no campeonato africano de poesia que terá lugar no Togo…
NS: Aos campeonatos levarei a nossa cultura, as nossas vivências, as nossas dores, a nossa alegria, a nossa identidade e algumas reflexões mundiais, tudo isso descrito nos poemas e na performance. Não sei se vamos conseguir ganhar, mas eu tenho a certeza de que vou representar Moçambique da melhor forma possível, estou a me dedicar para tal, o mundo saberá do que somos capazes, da nossa competência e potencial, de tal modo que nunca se esquecerá do peso da caneta de um moçambicano.
M: Qual é o trabalho que estás a fazer para representar o nosso país ao mais alto nível?
NS: Estou ainda no processo de repouso depois da grande batalha da semifinal, preciso descansar para produzir melhor nos próximos dias. Mas a espectativa é de me reinventar tendo em conta que é um mundial.
M: Qual é o teu principal sonho enquanto poetisa?
NS: O meu sonho como poetisa é de lançar um livro, e graças a Deus a Gala-Gala decidiu ajudar a lançar. Sonho com o livro publicado e traduzido para várias línguas de modo que possa ser lido em várias partes do mundo.