Jornalistas preocupados com a ética na profissão

Foto: Fundação Fernando Leite Couto

Na actual era digital, a ética jornalística é muito desrespeitada, o que se reflecte na transformação de valores e práticas sociais.
Este e mais elementos foram recentemente discutidos na Escola de Comunicação e Artes da Universidade Eduardo Mondlane (ECA-UEM), durante o debate “Ética da Mídia na Era Digital”.
O evento insere-se na celebração do centenário do escritor e tradutor Fernando Leite Couto, antigo jornalista e docente da Escola de Jornalismo (EJ) e contou com a participação de Jeremias Langa, Mia Couto, Rogério Manjate e Cremilde Massingue, sob a moderação de Tomás Vieira Mário.


“Parece haver uma competição entre os meios de comunicação para transgredir os princípios éticos”

Rogério Manjate destacou que muitos conteúdos veiculados pelos media violam a ética, incluindo matérias chocantes exibidas em horários inapropriados e imagens desprotegidas de mulheres e crianças que sofrem violações sexuais, bem como cidadãos indiciados de práticas criminais. Ressaltou uma espécie de tendência de competição para ultrapassar limites éticos.
Destaca a existência de uma actual pressão sobre as fontes de informação para cobrir determinados assuntos de interesse público e a transformação de matérias jornalísticas em publicidades reduzidas. Também denunciou atitudes anti-éticas de jornalistas, que possuem informações comprometedoras sobre uma entidade e realizam chantagens para ganhar dinheiro.
Outra questão abordada por Rogério Manjate é o cenário actual em que o jornalista muitas vezes depende de boleias de instituições estatais e privadas para cobrir uma determinada matéria. Argumentou ser difícil realizar uma abordagem honesta diante dessas regalias oferecidas aos jornalistas e enfatizou a necessidade de discutir criticamente a ética no jornalismo de forma mais transparente e responsável.
O jornalista Jeremias Langa, por sua vez, levanta uma reflexão questiona mudanças de valores na profissão. Entende a internet apenas amplia o espaço comunicacional, mas o grande problema está com pessoas com pensamentos limitados, sem ou com pouca formação na área. Ou seja, qualquer um pode escrever, mesmo sem dominar os princípios jornalísticos.
Langa questiona como um indivíduo sem formação pode respeitar a ética. Para muitos, o que mais importa são os "likes" nas redes sociais. Algumas emissoras de televisão, inclusive, negligenciam a ética em busca de popularidade, competindo com indivíduos não formados. Verdade, rigor, objectividade e profissionalismo são alguns elementos a serem respeitados pelo jornalismo.
Como Jeremias Langa, Cremilde Massingue destacou a necessidade de cultivar o hábito de verificar as fontes de informação. Não se pode aceitar a corrupção.

Pobreza não deve ser usada como desculpa para comportamentos antiéticos
Durante o painel de discussão, na sessão de perguntas e respostas, a plateia chegou a culpar a pobreza como dos principais responsáveis pelos desvios éticos. A negligência, por parte dos órgãos reguladores da comunicação social e a própria sociedade que valoriza conteúdos mal redigidos não foram deixados de lado.
Em resposta, o painel destacou que a pobreza não é desculpa para comportamentos anti-éticos. Disseram que o jornalismo, geralmente, não proporciona altos rendimentos, devendo o jornalista optar pela correcção e ética, mesmo diante de dificuldades financeiras.
Além disso, enfatizou-se a importância de um esforço conjunto com a sociedade para superar os desafios. Sugeriu que a auto-regulação seja priorizada em relação à regulação externa, destacando a responsabilidade individual e colectiva dos profissionais da comunicação em manter padrões éticos elevados.

 

(Por Reinaldo Manhice)