Eu poderia muito bem emigrar, mas permaneço ancorado no querer. É como se um político me sussurrasse ao ouvido: "Não basta querer!". E a verdade, dura como pedra, é que o simples querer não basta.
É preciso muito mais do que o desejo; é preciso reunir forças e dinheiro, é preciso estar pronto para os mil e um passos que nos levam além da fronteira, desde a simples mala até os papéis burocráticos que pesam mais que o próprio coração.
Poderia cruzar clandestinamente uma fronteira qualquer, como muitos fazem, rumo ao desconhecido. Há quem diga que é melhor ser mendigo nos Estados Unidos do que em muitos outros cantos do mundo. Talvez estas vozes tenham razão, ou talvez estejam envoltas num véu de ilusões. A verdade é que a dificuldade que não conhecemos torna-se, aos nossos olhos, a facilidade que nunca experimentámos. O que sabemos nós sobre o frio que se sente ao outro lado do oceano? Sobre o calor sufocante que nos espera sob céus distantes?
Leio os jornais, ouço os ecos das rádios, vejo o desfilar das notícias na televisão. Em todos os cantos, os migrantes se lamentam. Sempre há um toque de amargura nas terras que prometeram felicidade. Quem imaginaria que o paraíso também tem suas estações cruéis, com invernos rigorosos e verões insuportáveis? Cada história é única, cada jornada é uma narrativa à parte, mas há algo de comum nas agruras que se escondem por trás das promessas de um futuro melhor.
Rio-me, sozinho, lembrando-me do professor que, em meio a uma aula qualquer, partilhou as suas aventuras na Rússia. Com um cigarro nos dedos, disse: "Eu fumava para esquecer a fome e o frio na Rússia". E foi aí, nesse momento, que o meu desejo de emigrar hesitou. Talvez eu ainda queira partir, mas, por agora, ocupo-me com risos e lamentos, saboreando a ironia das pequenas tragédias da vida.
(Por Lucas Muaga)