“I was born a girl”: direitos humanos são direitos das mulheres

Exposição destaca campeãs africanas de boxe no meio de outras figuras femininas | Foto: cortesia FFLC

 

Patente na Galeria da Fundação Fernando Leite Couto até 7 de Abril, a exposição “I Was Born a Girl” da artista finlandesa Minna Pietarinen, destaca as mulheres que quebraram barreiras, transformaram o mundo e lança um alerta: o mundo clama por mudança e os direitos humanos são direitos das mulheres.

Trazida a Maputo pela Embaixada da Finlândia, a exposição reconhece e homenageia as mulheres cujos feitos impactaram a sociedade. Desde logo, de Moçambique, chama atenção a obra que destaca duas jovens mulheres que quebraram barreiras e ainda levaram o nome do país para o prestígio internacional: Alcinda Panguana e Rady Gramane, campeãs africanas de boxe.

“De origens humildes tornaram-se campeãs mundiais, a ascensão delas reflecte uma transformação notável no cenário desportivo de Moçambique e grandes avanços em direcção à inclusão de género no desporto”, refere o texto integrado na exposição, da organização das Nações Unidas para as Mulheres, representação da Finlândia, UN Women Finland.

“Mulheres e meninas pertencem ao desporto assim como qualquer outra pessoa, e quaisquer barreiras que possam existir foram criadas pelo homem – e podem, e devem ser derrubadas, assim como Alcinda e Rady demostraram através das suas próprias acções e jornadas inspiradoras”, afirma ainda a UN Women, destacando o feito das duas conquistadoras de medalhas de ouro no Campeonato Africano de Boxe de 2022.

Numa iniciativa inédita da artista finlandesa Minna Pietarinem que pretende alertar exactamente ao que o mundo não quer ver – o potencial das mulheres e o impacto que elas têm nas sociedades – no total sete rostos femininos são destacados.

Ao entrar para o espaço da Biblioteca da Fundação Fernando Leite Couto, somos chamados a olhar para uma tela cujo rosto, embora do oriente, é familiar: é a Malala Yousafzai, a activista paquistanesa que se destaca pela luta pelos direitos das raparigas, banhada num verde que dá profundidade ao quadro. Ao lado, um texto dá azas à pintura do realismo contemporâneo, colocando as intenções para a imponente figura estar naquele lugar.

“Malala afirma que não partilha a sua própria história por ser única, mas sim porque não o é. Assim como Malala, dezenas de milhões de meninas e mulheres têm de lutar todos os dias pelo direito à educação, apenas por serem mulheres. Em todo o mundo, as mulheres são excluídas da educação porque ainda são vistas como inferiores aos homens na sociedade. Para as meninas e mulheres, a educação é frequentemente a chave para oportunidades, e para fazerem as suas próprias escolhas. Quando as meninas e mulheres são excluídas das escolas, não estão apenas a ser privadas de um direito humano fundamental, mas de vários direitos. Quando as meninas e mulheres não estão na escola, o risco de muitas outras violações dos direitos humanos também aumenta significativamente.”

A activista paquistanesa foi a pessoa mais nova laureada com o Prémio Nobel – Prémio Nobel da Paz 2014.

 

Primeira mulher a ocupar os cargos de Presidente da República da Finlândia | Foto: cortesia FFLC

 

A outra mulher destacada na exposição, alcançou o feito de ser a primeira mulher a ocupar os cargos de Presidente da República da Finlândia (2000-2012), ministra de negócios estrangeiros, ministra da justiça e primeira advogada mulher da Central Organization Of Finnish Trade Unions. Chama-se Tarja Halonen.

“A presidência de Halonen foi um passo significativo no desenvolvimento da igualdade de género na Finlândia, pois, como primeira mulher presidente, proporcionou às meninas finlandesas um novo exemplo das oportunidades para as mulheres. Com o seu próprio exemplo, Halonen deseja fortalecer a crença, especialmente na geração mais jovem, de que é possível provocar mudanças”.

 

Uma experiência pessoal

Minna Pietarinen é a terceira mais velha de uma família luterana (Laestadian Lutheranism) de 17 filhos. Enquanto mulher, o seu modelo de vida foi profundamente influenciado pela maternidade, tal como ditado pelas directrizes da sua religião. A orientação da sua vida foi guiada pelo medo de garantir um lugar no céu, moldado por uma consciência sensível. Aos 18 anos casou-se e, aos 27 anos já tinha engravidado 9 vezes, sendo que destas gravidezes apenas 5 filhos sobreviveram. Em 2012, abandonou a fé luterana e o seu casamento.

 

Os direitos das mulheres são direitos humanos, essa é a mensagem de Minna Pietarinen | Foto: cortesia FFLC

 

“Dei por mim muito sozinha, com um medo enorme como meu amigo. Procurei consolo na terapia-de-arte e, através de profundas realizações, embarquei no caminho de estudar a mim própria. Pintei e escrevi extensivamente, mergulhando profundamente no meu interior. À medida que a minha própria coragem crescia, comecei a aperceber-me do conforto e do apoio que as pessoas obtinham da minha abertura. Compreendi o que precisava durante as minhas próprias e difíceis situações de vida: alguém que articulasse aquelas palavras que eu desconhecia, que me despertasse, que quebrasse a minha bola de medo, que me consolasse e apoiasse; que me falasse dos direitos humanos.”, disse a artista, numa mensagem emocionante, durante a abertura da exposição, em Maputo.

A arte, sendo a pintura e a poesia, deram azo para a voar pelo mundo. E agora, com o projecto “I Was Born a Girl” procura chegar a mais mulheres, despertando a sua voz interior e dizendo-lhes que elas podem, tem os mesmos direitos que os homens de decidir o que querem para si e para a sociedade.

O projecto "I Was Born a Girl/Nasci Rapariga", explica a artista, “nasceu com a esperança de que pelo menos uma rapariga ou mulher pudesse encontrar apoio, esperança e empoderamento. Isto porque a realização dos direitos humanos dá poder e liberta um indivíduo para ser o seu verdadeiro "eu", concedendo, por sua vez, essa mesma liberdade aos outros.”

No entender de Minna Pietarinen, a conjugação a arte como linguagem universal, com os direitos humanos que são igualmente para todos, faz com que esta exposição que vai chegando a vários países do mundo, seja mote para a mudança ou consolo.

“Mesmo em situações em que uma rapariga ou mulher pode não ter a capacidade de mudar as circunstâncias externas, através da arte e da poesia, ela pode encontrar palavras para as suas emoções complexas, criar força em si própria e alimentar a esperança e a crença num amanhã melhor. Empoderar a si própria no momento presente. Este empoderamento é o primeiro e o passo mais importante para todas raparigas e mulheres do mundo, e começa por darmos as palavras dos direitos humanos a nós próprias.”, afirma.

O mundo anseia por mudanças. Os direitos das mulheres são direitos humanos, essa é a mensagem de Minna Pietarinen.

 

Por Eduardo Quive