Ensino pré-escolar não chega para maioria das crianças moçambicanas

É importante o desenvolvimento da primeira infância na construção de um futuro mais promissor | Foto: EQ

Durante a 3ª Conferência do Desenvolvimento da Primeira Infância, que decorreu na Universidade Pedagógica de Maputo, nos dias 08 e 09 de Novembro, académicos, organizações da sociedade civil e estudantes reflectiram sobre a inclusão e protecção das crianças, em todos os serviços de desenvolvimento e aprendizagem da criança dos 0 aos 8 anos.

No arranque da conferência, o reitor da Universidade Pedagógica de Maputo, Jorge Ferrão, mostrou-se preocupado com o facto de não haver clareza sobre de quem é a responsabilidade no Governo, em garantir que a primeira infância cresça educada ou seja, se é da alçada do Ministério da Educação ou Desenvolvimento Humano, Ministério do Género, Criança e Acção Social ou Ministério da Saúde.

“Nós continuamos sem uma definição muito clara sobre quem tem a liderança da educação da primeira infância no país”, disse Ferrão, de seguida, advogando que o Governo deve criar um orçamento direccionado à educação de primeira infância, caminho para garantir a inclusão de todas as crianças no ensino pré-escolar, ao contrário do cenário actual, em que, “continuamos a viver de pequenos projectos que são implementados pelos parceiros”.

Jorge Ferrão recorreu a dados oficiais do sector da Educação que apontam haver, no país, cerca de 1500 instituições de ensino pré-escolar, estando nelas inscritas mais de 100 mil crianças. Números que estão distantes da realidade de número de crianças existentes em Moçambique.

O antigo ministro da Educação e Desenvolvimento Humano, defende mais investimento no sistema de ensino pré-escolar, procurando-se incluir todas as crianças moçambicanas. A manter-se nesses níveis, só 10 por cento de moçambicanos na primeira infância serão inclusos na rede pré-escolar até 2024.

Diante de professores, pesquisadores, estudantes, activistas e organizações da sociedade civil, Jorge Ferrão alertou para que sejam feitos esforços conjuntos e sobretudo, se reconheça a importância do desenvolvimento da primeira infância na construção de um futuro mais promissor e mais igualitário para a sociedade moçambicana.

No evento, a conhecida activista Farida Gulamo, Associação dos Deficientes Moçambicanos, defendeu uma educação inclusiva, desde a primeira infância, ao exemplo das crianças com deficiência auditiva, motora e outras.

“Necessidades educativas especiais são todas as crianças que precisam de um atendimento pedagógico na sua aprendizagem, podem ser crianças com problemas de dislexia de aprendizagem, podem ser crianças com problemas de deficiência, podem ser crianças superdotadas, podem ser crianças com problemas de comportamento. Uma criança, por exemplo, com poliomielite, numa sala de aulas, deve estar nas filas da frente, porque se uma cadeira de rodas, ou nas carteiras da frente, para ela poder ter acesso ao quadro. Por tanto, tem algumas necessidades complementares, não necessariamente educativas. Mas é preciso a remoção de barreiras para lhe facilitar o acesso à sala de aulas. Do lado do professor, é preciso que ele conheça a línguas de sinais e ser capaz de transmitir o conhecimento para essas crianças.”

A título de exemplo, citou Farida Gulamo, no pico da pandemia da Covid-19, foram transmitidas aulas através da televisão e várias crianças com dificuldades auditivas, por exemplo, foram excluídas.  

A 3ª Conferência do Desenvolvimento da Primeira Infância centra as suas atenções ao bem-estar da criança através de uma acção de advocacia, divulgação e estimulação a pesquisa e é organizada pela Universidade Pedagógica de Maputo (UPMaputo) através da Faculdade de Educação e Psicologia (FEP).

 

Mozavibe