A leitura abriu-me as portas do mundo e levou-me a lugares e pessoas. Os poucos livros que habitavam a casa da minha mãe e as grandes colecções que preenchiam as estantes da Biblioteca Comunitária de Memba funcionavam como o cockpit de um avião que me levava aos destinos da minha curiosidade.
Os atlas, as enciclopédias e as antologias fizeram-me conhecer os recantos de um Egipto, uma Grécia, uma Roma, um Zimbabwe ou um Congo. Naveguei pelas águas do Nilo, Zambeze e Eufrates e senti os labirintos de uma caminhada no Amazonas, Austrália ou Gorongosa.
Conversei com amigos que viveram em lugares e épocas distantes, ouvi suas ideias, apresentaram-me suas descobertas científicas e deixaram-me ficar as suas histórias, canções e poemas.
Foram os livros que definiram o meu destino tornando-me num andarilho que peregrina pelo mundo de forma imaginária a procura de respostas para perguntas complexas sem nunca convencer-se de que existe sabedoria para curar todas feridas do mundo.
A leitura tornou-se a minha terapia contra o tédio, o remédio contra a ira e o meu saco de pancadas em momentos de angústia. Quando tudo parece perdido, a leitura é aquele beat da música de Kanda Bongo Man que dançamos de forma desesperada em Dezembro de 1999 quando pensávamos que mundo iria acabar.
A leitura adia o fim do mundo.
Coimbra, 23-04-2024
Texto escrito por ocasião da celebração, hoje, 23 de Abril, do Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor.