Desafios climáticos em Moçambique

Foto: Renaldo Manhice

O instituto Kadila de Estudo Africano e Diáspora organizou recentemente, em Maputo, um debate sobre riscos climáticos em Moçambique e suas implicações nas áreas urbanas e rurais. 

A conversa partiu do entendimento segundo o qual Moçambique é actualmente um dos países mais vulneráveis aos desastres climáticos no mundo. Prova disso é continuar a enfrentar eventos extremos como ciclones, inundações e secas, que impactam milhares de pessoas. 

Segundo dados recentes, pelo menos 28 ciclones, 36 inundações e 15 secas atingiram o país nos últimos 40 anos, forçando mais de 127 mil pessoas ao deslocamento interno. 

A pesquisadora no Observatório do Meio Rural (OMR), Uacitissa Mandamule, destacou que a percepção de risco varia amplamente entre as comunidades moçambicanas, particularmente nas áreas rurais, onde a agricultura é a principal fonte de sustento.

“As populações rurais percebem os riscos de uma forma muito específica. Para muitas delas, o verdadeiro perigo não é perder as suas casas ou suas vidas durante uma inundação, mas sim perder as suas terras agrícolas, que são a sua principal fonte de alimento e renda. Para eles, a fome é o maior risco,” explicou.

Mandamule também destacou as propostas do governo de reassentamento às pessoas que vivem em áreas vulneráveis, como zonas propensas a inundações muitas vezes não são bem aceitas pelas comunidades afectadas, que se recusam a deixar suas terras férteis por locais onde as condições para o cultivo são inadequadas. Além disso, as novas áreas de reassentamento frequentemente carecem de infra-estrutura adequada, o que intensifica a resistência dos residentes.

Como estratégias de adaptação, Mandamule ressaltou a diversificação das áreas de produção agrícola e a adopção de novas variedades de sementes que resistem melhor às condições climáticas extremas. Também citou o fortalecimento das associações de produtores, que permitem que as comunidades unam esforços para enfrentar os desafios.

Por outro lado, o pesquisador José Langa, co-fundador do ObservA, chamou a atenção para os impactos urbanos dos riscos climáticos. “Quando ocorrem eventos extremos como ciclones e inundações, muitas pessoas das áreas rurais migram para as cidades em busca de segurança, mas isso cria novos problemas”, observou. 

Segundo Langa, a pressão sobre as cidades, que já enfrentam falta de infra-estrutura adequada, gera uma série de desafios, incluindo a sobrelotação de abrigos temporários o que causa várias doenças e o aumento de violações de direitos humanos. Langa finalizou deixando claro que a academia tem muito trabalho a fazer para mitigar percepções distintas entre vários intervenientes.

Durante o debate, surgiu a proposta de um novo modelo de reassentamento, no qual as comunidades em risco receberiam terras mais produtivas e bem planificadas, além de treinamento em novas técnicas agrícolas e apoio financeiro. Outro ponto discutido foi o papel das cidades na mitigação dos riscos climáticos.

“Precisamos de um planeamento urbano que seja resiliente. As cidades moçambicanas precisam se preparar para os eventos climáticos e garantir uma habitação adequada, saneamento básico e acesso a serviços”, defendeu Langa.

(Por Rafael Langa)