Quando pensas em lugares incríveis, a Ilha de Moçambique é, sem qualquer sombra de dúvidas, um deles.
Há poucos lugares que emanam uma energia semelhante, é surreal!
Estás a ver quando vais a casa da avó e ela sempre reclama “Não tenho nada eu!” e de repente saem uns salgados, caris deliciosos e cheios de carinho, e no final estão todos “embuchados” de NADA...Pois é.. a Ilha é igual...Não tem NADA de especial..
São pouco mais de 3 quilómetros de circunferência, repletos de NADA.
Não tem uma fortaleza centenária, construída por mais de sessenta anos, e serviu de abrigo para aqueles que por aqui viveram, foram vendidos como se mercadoria fossem.
Não falo do Museu, que alberga um pedaço de história colonial bastante bem conservado, por ordem do Presidente Samora Machel, quando um dos seus seguranças quase destruiu uma cadeira centenária.
Não falo das inúmeras casas do estilo colonial, repletas de cores vivas e estórias intemináveis.
Na primeira Mesquita construída no país então, nem falo.
Na Sara e na Saquina, paragens obrigatórias para quem quer experimentar pratos típicos (a Matapa de Siri siri é de bradar aos céus), feitos com enorme carinho.
Tal como um guia turístico, permitam-me partilhar com um pouco mais de detalhe dois lugares, que o ambiente e os seus proprietários marcaram a minha ida à Ilha.
Primeiro é o Pátio dos Quintalinhos, uma guest house aninhada no centro da Ilha, mesmo em frente à maior das muitas Mesquitas. Posicionada em frente da praia, é uma autêntica obra de arte. Tal como (quase) todas, este espaço é antigo, porém muito bem redesenhado pelo seu proprietário, o Grabrielle, arquitecto Italiano que, a quase duas décadas fez da Ilha sua casa. Quartos originais, com um design simples, porém de muito bom gosto onde se percebe a optimização de luz solar, entre outros aspectos de reciclagem de materiais locais. Gabrielle oferece um pequeno almoço bem simples, mas cheio de detalhes, com pão fresco, sumo de fruta recentemente feito e uma compota de fruta da época de chorás por mais. Tudo isto a um preço que um turista local pode facilmente desfrutar do NADA que a Ilha oferece.
Segundo, o Relíquias, um restaurante bastante bem decorado, com três ambientes destintos, sendo que, a vista a praia é (para mim) o mais lindo, cujos livros à entrada captam a atenção de qualquer bom apreciador. O Senhor José, sempre calmo e bem disposto ali assim, metido nos seus papéis dá-nos as boas vindas. Mas a pérola do lugar são os seus trabalhadores. Sempre sorridentes e atenciosos cuidam de nós com um brio que se vê cada vez menos nos nossos restaurantes. A comida então, Mariscos variados, sempre fresco, da brasa ao prato repleto de sabor. Um autêntico festim dos Deuses dos palatos!
Local que foi “Casa” de Camões, durante certa de dois anos (entre 1567 e 1569) continua a inspirar diversos outros autores, como o escritor angolano José Eduardo Agualusa, que escolheu a Ilha de Moçambique, como cenário do seu novo romance “Os Vivos e os Outros”. Realmente, a Ilha não tem NADA de especial.
Sair da Ilha é sempre nostálgico. Tem um íman que nos faz querer voltar lá sempre, para podermos desfrutar das suas águas cristalinas.
(Por Leonel Mendes)