“Amatodos” volta aos palcos para alertar sobre uma doença que persiste

“Amatodos” teve digressão nacional e internacional | Foto: Lindo Cuna

 

A Companhia Nacional de Canto e Dança (CNCD) tem vindo a bailar à nível nacional na luta contra o HIV/SIDA com a obra intitulada “Amatodos”. Um bailado que enquanto arte, tem a função de educar e alertar para a prevenção das doenças sexualmente transmissíveis, com duração de 65 minutos, da autoria de Augusto Cuvilas, Maria Helena e Pérola Jaime.

No princípio deste 2024, “Amatodos” abraçou Gaza, província que apresenta maior número de prevalência do HIV/SIDA do país, com cerca de 20,9%, numa parceria com o Conselho Nacional de Combate ao HIV/SIDA, para promover a reflexão e mudança comportamento, contribuindo para a redução da propagação do vírus.

À margem da iniciativa, revelamos o significado da obra e o percurso da coreógrafa Pérola Jaime, por sinal, das importantes na história da dança em Moçambique e na própria CNCD.

“Amatodos” é um bailado que teve digressão nacional e internacional, lançando um alerta, por via da arte, para cuidados e tratamento em relação ao vírus da Sida. Entre cidades moçambicanas e americanas, por exemplo, a obra foi vista por mais de 500 mil pessoas e foi considerada uma das melhores peças de dança que retrata a tragédia de Sida com objectivo claro e alto senso de educação, pelo The New York Times. 

Pérola Jaime, coreógrafa desta obra destaca que na altura em que a peça foi concebida (1998), era um grande constrangimento falar de sexo, o que dificultou o diálogo, mas Pérola, sonhadora, rompeu todos os tabus e trouxe o diálogo a todos os palcos, sem estigmatização ou discriminação.

 

Obra foi vista por mais de 500 mil pessoas | Foto: Lindo Cuna

 

Em palco, narra-se a vida de um homem bem-sucedido que se entrega de forma irresponsável aos prazeres da carne, assim contraindo o vírus, lidando com as vicissitudes, acaba pela luz do espírito e unidade, encontrando os passos para uma vida segura e saudável.

A CNCD, na qual Pérola Jaime é a principal coreógrafa, foi fundada em 1989 com o objectivo de pesquisar, divulgar e preservar a cultura trazendo a arte performativa a interagir com todos os públicos.

Pérola Jaime faz da arte performativa a sua principal ferramenta de comunicação. Nascida em Gaza, distrito de Chibuto, na localidade de Chipadja, com dificuldades e timidez na fala, optou por estudar Dança, onde em 1980 fez o seu primeiro passo na Escola Nacional de Dança. O que faltava-lhe na língua excedia nos tendões. Com bastante flexibilidade dançou em vários palcos e, finalmente, em 1983 ingressou na CNCD, teve menções nacionais e internacionais, desde a distinção de melhor trabalhadora pelo Ministro da Educação e Cultura, na altura Aires Ali, passando a Figura do Ano eleita em 2004 pela Revista Tempo e pela Rádio Moçambique, e em 2011 eleita Figura Cultural do Ano pelo Jornal Notícias e Rádio Moçambique pela coreografia dos Jogos Africanos. Recebeu igualmente o Prémio Revelação e Prémio Consagração, ambos atribuídos pelo FUNDAC.

Numa carreira de prestígios e acúmulo de experiência, Pérola trabalhou com nomes eminentes na área da dança, como Lynda Davis, Arthur Hall e Max Luna III, Jowolle Jo Zolar, Regy Mills, Makeda Thomas todos dos Estados Unidos de América; partilhou experiências na dança moderna com Mateus Kuyate e Sidi Condé, profissionais de Guiné Conakri; na dança tradicional destacam-se, entre outros, a convivência com Anabela Roldana para Ballet Clássico e com os cubanos  Veitya, Luisa Olivares e Alejandro Vasalo.

 

Texto: Deizy Joana