Para combater o aquecimento global e mitigar as consequências das mudanças climáticas, vários países têm colaborado na assinatura de acordos climáticos e de desenvolvimento. No entanto, Jorge Moreira, subsecretário-geral das Nações Unidas e director executivo da ONU OPS, alerta que esses acordos estão longe de serem cumpridos.
Moreira destacou acordos importantes firmados em 2015, como o "Marco de Sendai para a Redução do Risco de Desastres", a "Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável" e o "Acordo de Paris".
Em relação ao Acordo de Paris, enfatizou que os países signatários estão distantes de atingir as metas estabelecidas. Para limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C até o final do século, seria necessário reduzir as emissões em 45% até 2030 e alcançar a neutralidade de carbono até 2050. No entanto, as metas actuais indicam um acréscimo de 11%, o que pode resultar em um aumento de temperatura entre 2,7°C e 2,9°C até 2030.
Além disso, dos seis bilhões de dólares necessários anualmente para financiamento climático, apenas 1,2 estão sendo mobilizados, deixando um défice significativo, especialmente para os países em desenvolvimento. "Estamos longe de cumprir o que foi prometido. Emitimos mais enquanto deveríamos emitir menos", afirmou Moreira.
Quanto aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), apenas 30% das 169 metas estão em fase de cumprimento. Antes da pandemia, os países em desenvolvimento necessitavam de 2,5 bilhões de dólares para cumpri-los, mas esse valor aumentou para 4 bilhões. "Os desafios são enormes e a pandemia só agravou a situação", disse Moreira.
Destacou ainda cinco desafios principais para o mundo: paz, agenda social, crise humanitária, revoluções energéticas e digitais, e governança. "Cerca de 25% da população mundial vive em conflito. É urgente uma agenda internacional de paz e prevenção de conflitos", afirmou.
QUEM MENOS EMITE SOFRE MAIS
Moreira ressaltou que os países menos desenvolvidos, como Moçambique, sofrem de forma desproporcional as consequências das mudanças climáticas, apesar de suas baixas emissões. "É uma grande injustiça onde aqueles que mais emitem não são os que mais sofrem as consequências", lamentou.
Sobre a biodiversidade, chamou atenção para a dramática redução da diversidade animal. Actualmente, 80% das aves no mundo são frangos, enquanto 92% dos mamíferos são gado. O restante desapareceu. Se não houver mudança de comportamento, nos próximos 20 anos haverá mais plásticos nos oceanos do que peixes. "O número de plásticos duplicou nos últimos 20 anos e vai triplicar nos próximos 30 anos", advertiu.
Moreira também destacou a necessidade de investimentos em energias renováveis e inclusão digital. "A África possui 60% do potencial solar do mundo, mas tem pouco investimento", disse ele, acrescentando que três bilhões de pessoas ainda estão offline, necessitando de inclusão digital urgente.
Para enfrentar esses desafios, apontou cinco motores de resolução, nomeadamente financiamento adequado, reformas políticas, capacidade de concretização, arquitetura global adequada e liderança. "Sem uma ação coordenada e ambiciosa, os desafios globais continuarão a crescer, afastando-nos ainda mais das metas estabelecidas", concluiu.
Refira-se que Jorge Moreira foi recentemente orador em uma palestra ministrada na Universidade Eduardo Mondlane (UEM).
(Por Renaldo Manhice)