Dentro de alguns anos, completarei duas décadas desde que tive a minha primeira aula de Filosofia na Escola Secundária 12 de Outubro, sob a orientação do professor Graciano Cornélio. Naquela altura, dedicava ao máximo o meu tempo a atividades que me davam paixão. Gostava de música e, de vez em quando, escrevia uns versos de Hip Hop e compunha canções de R&B para a minha querida Ivete (sonhávamos que ela se tornaria uma grande cantora, mas desistiu devido aos percalços da vida). Também fazia programas de rádio (Mundo Sem Segredos e Tarde Jovem) e, ocasionalmente, ia jogar futebol.
A Escola 12 de Outubro tinha poucas salas para acolher todos os alunos. Por isso, alguns de nós fomos obrigados a frequentar as aulas à noite. Caminhava cerca de 5 quilómetros a pé, do Matadouro até à Muhala Expansão, escapando a várias emboscadas protagonizadas por ladrões e até por polícias que tentavam roubar-nos telemóveis, dinheiro e outros bens.
O professor Graciano Cornélio entrou na sala, apresentou-se e fez uma provocação, pedindo-nos que partilhássemos as perguntas que nos preocupavam. Cada um de nós começou a elaborar questões sobre diversos temas. Quanto mais tentávamos compreender, mais perguntas surgiam.
A meio da aula, uma colega perguntou se fazia sentido colocar questões para as quais não havia respostas. Ele respondeu com outra pergunta: "Será que existem respostas sem perguntas?" Diante do nosso silêncio, o professor Cornélio afirmou:
"Há sempre uma pergunta a ser feita, enquanto tivermos a oportunidade de viver."
Em seguida, explicou que o acto de fazer perguntas constituía o princípio do filosofar. Filosofar, explicou, seria um exercício em ação, no qual, perante realidades que parecem óbvias, devemos sempre questionar. Citou um filósofo que dizia: "Uma vida não reflectida não é digna de ser vivida."
Hoje, a Filosofia torna-se cada vez mais central em Moçambique, não como instrumento de doutrinação ideológica, mas como um exercício para questionar os limites da própria razão.
Desejo um feliz Dia Mundial da Filosofia a todos os que ousam questionar.
(Por Jessemusse Cacinda)
