A academia é desafiada a combater a violência baseada no género (VGB), problemática que afecta profundamente a sociedade moçambicana, atingindo especialmente as mulheres.
É a pensar nisso que recentemente a Universidade Pedagógica foi palco de um debate sobre o papel da academia no combate à VBG, no decurso das comemorações dos 40 anos da organização World Vision Moçambique.
O evento contou com a presença de diversas instituições académicas e organizações, incluindo a Universidade Eduardo Mondlane (UEM), Universidade Católica de Moçambique (UCM), e escolas secundárias como Lhanguene e Michafutene.
O Reitor da UPM, Jorge Ferrão, abriu o debate com uma intervenção que destacou a gravidade da situação. Apresentou estatísticas alarmantes, indicando que Moçambique regista, em média, cerca de 21 mil casos anuais de violência.
Referiu que aproximadamente 40 por cento das mulheres moçambicanas enfrentam violência física ou sexual ao longo das suas vidas, resultando em danos físicos, psicológicos e emocionais. “Estes actos levam frequentemente à depressão e outras consequências graves para as vítimas, que incluem mulheres, raparigas, homens e meninos”, afirmou Jorge Ferrão.
A academia foi identificada como um espaço crucial para prevenir e combater a VBG. "É necessário promover ambientes seguros, onde todos possam aprender sem medo de assédio, coerção ou violência", continuou Ferrão, sublinhando a necessidade de as instituições de ensino assumirem um papel mais activo.
Segundo um relatório recente do Centro de Integridade Pública, seis em cada dez estudantes do ensino superior em Moçambique já foram vítimas de assédio sexual por parte de colegas ou docentes.
Adelaide Ganhane, representante da World Vision Moçambique, reforçou a necessidade urgente de acção por parte das universidades. Para ela, “não basta formar profissionais competentes; é fundamental que as instituições de ensino também promovam a mudança social, combatendo a violência de género em todas as suas formas”.
Durante o debate, várias propostas foram discutidas, incluindo a introdução da VBG como uma disciplina obrigatória nos currículos universitários. A estudante de Educação Física, Sandra Baptisene, sublinhou que “a violência de género deve estar no centro da formação académica para garantir que os futuros profissionais saibam identificar e combater estas práticas nos seus contextos de trabalho”.
Outro ponto abordado foi a criação de mecanismos eficazes e confidenciais para a denúncia de casos de assédio e abuso. A implementação de plataformas online para permitir denúncias anónimas foi uma das soluções sugeridas. Segundo a professora Lulu Mahil, da Universidade Dar es Salaam, “os estudantes precisam de sentir que podem denunciar sem medo de represálias”.
Para além da violência física e sexual, o debate também abordou formas mais subtis de abuso, como o abuso emocional. Antonieta Gaspar, estudante de Direito, destacou que “o abuso emocional destrói a auto-estima e o bem-estar das vítimas, sendo muitas vezes negligenciado”.
(Por MozaVibe)