Na cidade de Maputo, uma exposição relembra as cicatrizes do colonialismo português em Moçambique. “Nanquim Preto Sobre Fundo Branco”, do artista plástico português João Ayres (1921-2001), traz à luz retratos profundos da miséria, racismo e da condição social dos negros no tempo colonial.
A mostra reúne obras criadas em Moçambique entre 1947 e 1970 está espalhada por diversos pontos da cidade, nomeadamente Galeria Kulungwana, Instituto Guimarães Rosa (IGR), Museu Nacional de Arte (MUSART) e o Camões – Centro Cultural Português.
As obras de Ayres são também uma janela aberta para o passado, focando-se na vida das camadas proletárias, nos trabalhadores da doca de Maputo e nas expressões culturais mais genuínas dos moçambicanos. Capturam o desenvolvimento do espírito revolucionário que culminou na luta pela libertação nacional.
Com curadoria de Alda Costa, de Moçambique, e Natxo Checa, de Portugal, a exposição também reafirma a sua importância histórica e artística no país, ao oferecer uma rara oportunidade de mergulhar nas três primeiras décadas da produção artística de Ayres, sublinhando a sua relevância e legado.
A programação da exposição foi enriquecida pela exibição, na semana passada, do filme “João Ayres, Pintor Independente”, de Diogo Varela Silva, proporcionando uma visão ainda mais completa do artista e do seu impacto.
João Ayres, nascido em Lisboa em 1921, estudou Arquitetura na Escola de Belas Artes do Porto. Em 1946, mudou-se para Moçambique, onde o seu pai, o pintor Frederico Ayres, era professor na Escola Técnica da então Lourenço Marques, hoje Maputo. Aqui orientou cursos de pintura e desenho no Núcleo de Arte, influenciando e formando artistas como António Bronze, José Júlio e Malangatana.
(Por Mozavibe)