Fragmentos da Memória

Foto: Maimuna Adam

A partida, a memória é em si mesma um fragmento de uma realidade possível registada nas nossas mentes. É a parte restante de um evento que vivenciamos, um que, por algum motivo, deixou uma marca em nós. Isso acontece ao nível individual.

A história, em um nível colectivo, existe para garantir que as memórias de episódios que moldam uma sociedade estejam permanentemente disponíveis a todos. Ao contrário da memória individual, é um exercício com métodos comprovados.

A arte, embora possa às vezes se apoiar na ciência, é essencialmente formada em nível individual.

É aqui que encontramos a proposta de Maimuna Adam, que busca ser um lugar que tanto lembra—quanto questiona—as memórias entrelaçadas nas experiências de imigrantes na Alemanha (antes e depois da queda do Muro de Berlim).

Seu interesse por esse tema surgiu um pouco por acaso. Ao frequentar cursos de língua alemã no extinto Instituto Cultural Moçambique-Alemanha (ICMA), foi encontrada uma coleção em mau estado, prestes a ser descartada, provavelmente para ser enterrada para sempre no esquecimento colectivo.

A artista realiza esse exercício utilizando livros e fotografias, aos quais ela adiciona malas. A mala, em particular, é uma rica metáfora, carregada de vários símbolos. Entre estes estão ideias de carregar coisas importantes—memórias, experiências ou até mesmo fardos. Que símbolos elas carregam neste caso?

Esses objectos, ferramentas comuns que escapam à nossa atenção devido à sua natureza quotidiana—amplamente explorados na arte contemporânea desde a virada de Duchamp—são, nesta instalação, ressignificados como material sensorial que reflete as jornadas únicas dos personagens da exposição, mas que também poderiam ser um retrato de experiências colectivas.

Por meio desse exercício, Maimuna ficcionaliza narrativas pessoais para servir como uma reflexão sobre a condição do viajante e do imigrante. Essa experiência pode, como Stuart Hall concluiu sobre a migração de pessoas caribenhas para o Reino Unido na década de 1960, criar uma instabilidade de identidade—não pertencendo mais ao lugar de origem, nem totalmente ao lugar de chegada.

Ao manipular objetos e trabalhar com livros, ela os traz para o espaço do museu não como material para leitura tradicional, mas como estímulos para novas formas de leitura, emergindo das sugestões feitas por suas intervenções.

O trabalho oferece uma interpretação sensorial e simbólica das experiências migratórias, criando uma ponte entre experiências individuais e uma condição colectiva, onde a identidade é moldada por deslocamentos e redefinições contínuas.

(Por Leonel Matusse Jr.)