Agro-ecologia: sustentabilidade e segurança alimentar

Foto: Jossias Inácio

A adopção de práticas agro-ecológicas é forma eficaz de responder a crises ambientais e económicas, bem como um caminho para garantir a segurança alimentar e sustentabilidade.

Este é o entendimento do engenheiro agrícola Jossias Inácio, que recentemente concedeu uma entrevista à revista Mozabive. Durante a conversa, a fonte defendeu a adopção de práticas agro-ecológicas como uma forma mais eficaz de promover o desenvolvimento sustentável de Moçambique.

Jossias Ignácio iniciou a sua abordagem definindo a agro-ecologia como ciência, prática ou movimento que promove a interação harmoniosa entre agricultura, meio ambiente e comunidades.

Assim, referiu que em Moçambique, 90 por cento da população pratica a agricultura familiar e tradicional, sendo mais urgente migrar para a agro-ecologia. Esta transição requer consciencialização e educação, pois muitos agricultores ainda não compreendem totalmente este conceito nem os seus benefícios. 

“A biodiversidade nos campos de produção é crucial para a resiliência dos sistemas agrícolas”, considera, explicando que esta ciência cria sinergias que aumentam a produtividade e sustentabilidade, sendo “a forma mais eficiente de aproveitar os recursos naturais disponíveis sem depender excessivamente de insumos externos”.

Durante a conversa, Jossias Inácio indicou que a agro-ecologia maximiza o uso de recursos naturais e minimiza desperdícios. Seria benéfico em Moçambique, onde muitos agricultores têm recursos limitados. “Ao reciclar nutrientes e biomassa, os agricultores podem reduzir custos e melhorar a saúde do solo”, comentou.

SISTEMAS RESILIENTES

A fonte destacou ainda a importância da resiliência dos sistemas agro-ecológicos. “Com as mudanças climáticas, os nossos sistemas agrícolas precisam ser capazes de se adaptar e resistir a choques”, explicou.

Mencionou que a diversificação de culturas e a melhoria da saúde do solo são estratégias-chave para aumentar a resiliência, tornando os sistemas mais robustos contra eventos climáticos extremos.

A participação das comunidades locais é outro princípio fundamental da agro-ecologia, afinal “a gestão colectiva e o envolvimento das comunidades são essenciais para o sucesso das práticas agro-ecológicas”.

Os agricultores, continuou, devem ter seus direitos protegidos e suas tradições respeitadas. Aliás, as práticas agro-ecológicas também preservam a herança cultural e as tradições agrícolas.

Para Jossias Inácio, é importante proteger a saúde do solo e o bem-estar animal. Além disso, é necessário promover uma economia circular e solidária, que seja inclusiva e equitativa, ou seja, “a agro-ecologia pode criar uma economia mais justa e menos impactante para o meio ambiente”.

Jossias falou sobre a necessidade de políticas e estruturas de governança que apoiem a transição para a agroecologia e destacou que, para alcançar o desenvolvimento sustentável, é necessário um esforço conjunto entre o governo, comunidades e organizações para implementar políticas que favoreçam estas práticas.

 HÁ MUITOS CASOS DE SUCESSO

Para ilustrar o impacto positivo da agro-ecologia, partilhou alguns casos de sucesso mais impressionantes. Em Moçambique existem 80 associações compostas por oito mil agricultores promovidas pela não governamental ActionAid.

Estes agricultores relataram um aumento significativo na sua produção, colhendo agora duas vezes por ano, em contraste com apenas uma colheita anual antes da adopção da agro-ecologia.

Mencionou uma melhoria significativa na segurança alimentar. “Anteriormente, os agricultores enfrentavam cinco meses de escassez de alimentos após a colheita. Agora esse período reduziu para três meses”, explicou.

Ao longo da entrevista, Jossias Inácio forneceu uma visão mais abrangente de como a agro-ecologia pode transformar a agricultura em Moçambique, promovendo um desenvolvimento mais sustentável, produtivo e resiliente.

(Por Renaldo Manhice)