Ilídio Dos Santos - o moçambicano que faz a diferença a partir da China

A fazer doutoramento na China, Ilídio dos Santos promove intercâmbios entre estudantes | Foto: DR

Ilídio Deocleciano Salomão Dos Santos, moçambicano que atravessou o mundo e aterrou na China, com a missão de prosseguir nos estudos. Dentro dessa nova dinâmica social transformou-se num impulsionador de encontros e reflexões entre moçambicanos espalhados pelo mundo e não só, abrindo janelas de oportunidades e visões sobre Moçambique na comunidade académica. Falamos do Fórum de Interacção Académica, Social e Cultural (FASOC), que é uma importante iniciativa para o vislumbre de diferentes possibilidades dos desafios contemporâneos.

Ilídio Dos Santos encontra-se a frequentar o nível de doutoramento em Ciências Ambientais e Engenharia, na Wuhan University of Technology, especializando-se em tratamento de águas residuais e resíduos sólidos.

Foi no pico da pandemia da Covid-19 que se tornou Co-fundador e representante do Espaço Intelectual que recentemente solidificou-se no Fórum de Interacção Académica, Social e Cultural (FASOC), que é um meio de comunicação virtual criado em 2020, com o objectivo de desenvolver debates de carácter académico, socioeconómico, e cultural, de modo a contribuir para o desenvolvimento social do país. Mas já lá vamos. É preciso conhecer as origens para talvez percebermos melhor este moçambicano. 

 

De pastor de gado à cientista ambiental

 

Natural do distrito de Manjacaze, província de Gaza, na zona sul de Moçambique, Ilídio Dos Santos foi na infância pastor de gado e com os animais por cuidar diariamente, as voltas que dava em lugares como Nhawurongole e Mangwenhane, junto dos seus amigos, não o impediram  de sonhar em “atingir” níveis superiores de ensino. A prior, concorreu para duas universidades e não admitiu. No ano seguinte, tentou em mais três e admitiu em todas elas, tendo optado pela Escola Superior de Desenvolvimento Rural, da Universidade Eduardo Mondlane, para frequentar o curso do Agroprocessamento, mas devido aos problemas financeiros que enfrentava, concorreu para uma bolsa para poder custear as despesas da formação. 

Foi nesse processo de submeter a documentação para uma bolsa que teve a graça de ser sorteado com uma bolsa de estudo para ir à China, porém, para um curso diferente do que frequentava em Moçambique. Em Agosto de 2011, partiu para aquele país asiático na companhia de mais ou menos 90 bolseiros moçambicanos.

Após os anos de formação, já de regresso ao país, as oportunidades com o grau obtido, eram praticamente escassas e em 2017 concorreu para aumentar o grau académico  e no fim da formação a universidade convidou-lhe para continuar com o nível subsequente, o doutoramento.

 

Foco no desenvolvimento de Moçambique

 

Não obstante, a realização de seus sonhos, despertou-lhe as necessidades encaradas pelos outros. Notou que a comunicação acadêmica entre moçambicanos,  estudantes e não só, era quase inexistente e decidiu, criar o FASOC, junto de outros estudantes, Dário Chaluco, Sheila Rabeca, Mansur Mussa e Elina Novele. “Pois, entende que por exemplo, os académicos isolam-se da maior parte comunidade, focando-se nas pesquisas e os resultados obtidos que em algum momento deviam beneficiar a comunidade e a sociedade em geral, não são divulgados, não são partilhados e são completamente desconhecidos pela sociedade e através do FASOC, que é a primeira plataforma moçambicana de comunicação virtual que desenvolve debates de forma livre todos domingos, que reflete, discute, analisa e avalia conhecimentos científicos ou  não, de modo a encontrar a contribuição destes no desenvolvimento do país”, contou-nos, a partir da China, que esta contribuir para impulsionar a interacção entre moçambicanos em questões académicas, socioeconómicas e culturais. 

Estando na condição de estudante, percebeu, junto de outros estudantes, a importância da comunicação, interação e a necessidade do intercâmbio académico, socioeconómico, e cultural entre os povos. Nalgum momento, explica Ilídio Dos Santos, “que é o próprio moçambicano quem se isola dos debates as vezes por se achar incapaz de o fazê-lo alegando várias razões, dentre elas,  o não ser especialista em uma determinada área, matéria e etc”.

Ilídio Dos Santos precisou de encontrar mecanismos para conectar a academia com a sociedade. “A ideia é contribuir para o desenvolvimento da nossa própria sociedade, do nosso país, e acima de tudo, desmistificar a limitação e repercutir debates abrangentes (nacional), onde todos moçambicanos possam ter um espaço de fala, onde todos possam se sentir úteis na sociedade”.

No entanto, os debates promovidos pelo FASOC, o olhar estende-se por diferentes áreas, mas sempre voltado para encontrar soluções práticas a partir do conhecimento empírico,  académico para a realidade.

“A pesquisa, agronegócio e etc na área agrícola, por exemplo,  podem permitir que um agrónomo de uma determinado canto do país, saiba da variedade da semente de milho, que provavelmente resiste a um determinado ambiente (que tipo de solo pode semear, quando semear, quando pode fazer a colheita e etc) sem precisar de se deslocar de um canto para o outro. Impulsionado com as informações partilhadas em debates promovidos pelo FASOC, nas várias áreas do conhecimento, que os moçambicanos podem refletir, aprender, questionar, consultar e sugerir para que caminhemos ao encontro do que almejamos como sociedade ”, explica Ilídio Dos Santos.

Os debates já ultrapassaram 100 edições e normalmente são dirigidos, em média, por um orador e moderador, e já foram abordados vários temas como: Empreendedorismo: inovação social como estratégia de desenvolvimento; Reflexão sobre a discriminação, violência e racismo na busca de oportunidades na diáspora; Tratamento de águas residuais usando a tecnologia de geopolímero; Análise das causas e consequências dos conflitos de terra em Moçambique; Psicanálise e cultura: sobre a prática dos ritos de iniciação tradicional em Moçambique; Reflexão sobre o impacto da ajuda externa na economia moçambicana,  entre outros. Ademais, já foram abordados também temas sobre questões patrióticas, como: O valor de 25 de Setembro e o dia 7 de Setembro, procurando entender sentido da celebração para a nova geração.

Os debates do FASOC tem, em média, vinte participantes, por sessão, com oradores moçambicanos e não só, que estão no país, assim como em outros cantos do mundo como: Argélia, África de Sul, Rússia, China, Estados Unidos da América, Brasil e etc, com perpectiva de expandir o leque do nosso público alvo. Portanto, sintam-se convidados a juntar-se aos debates todos domingos pelas 15 horas de Moçambique através da plataforma ZOOM, para partilhar um determinado tema de carácter académico, socioeconómico e cultural, assim como participante.

 

Por Joana Carlos